segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Entrevista com uma especialista em sexualidade feminina.


Entrevistei Ana Galati em 2007 e republico esta entrevista super interessante sobre a temática “disfunção sexual”. Ana Galati é consultora da saúde e sexualidade da mulher e trabalha no Coletivo Feminista da Sexualidade e Saúde em São Paulo.
Mahte Montero - É sabido que nossa sociedade é hipócrita e por vezes recrimina as mulheres. Tal tipo de costume pode acarretar a frigidez?
Ana Galati - A frigidez tem interpretações diversas, mulheres descritas como frigidas são aquelas que nunca experimentaram o orgasmo. Outros caracterizam a frigidez como a ausência da libido. Portanto se não foi encontrada nenhuma causa patológica, ela será provavelmente causada por algum tipo de mecanismo de defesa psicossexual.
Durante a infância e a Pré - Adolescentes os meninos são mais estimulados a se tocarem e terem um auto conhecimento, que normalmente as meninas não tem , desde cedo estão acostumadas a verem a vagina como suja já que escutam os adultos falarem para “tirar a mão dai” a ficarem de pernas fechadas, moças direitas não falam sobre sexo, nem muito menos de desejo sexual, não é normal rodinhas de meninas contarem vantagem sobre a masturbação.
Essas mulheres chegam na vida adulta sem se conhecerem, em algumas oficinas que faço, vejo mulheres que nunca se tocaram, nem se olharam com espelhinho, ora se não se conhecem como irão explicar para os seus parceiros como gostam de ser tocadas, normalmente quando escuto ou respondo para algumas mulheres que me vem como queixa de “frigidez” a primeira pergunta que faço Qual é a sua relação com o sexo” O que já fez para obter um auto conhecimento? a resposta sempre vem com angustia, e ausência total deste conhecimento, até percebo que tem algumas mulheres que me ligam parece que pedem permissão, e eu digo – sim, você pode se tocar, sentir prazer, serem donas do seu próprio prazer, ainda é para algumas mulheres algo que vem com muita culpa, por conta da educação que tiveram.

MM- Alguns homens acreditam que a frigidez ou falta de apetite sexual da mulher tende a ser desculpas pra não transar todos os dias… Isso acaba agravando a patologia?AG - Uma grande parcela de homens também que acham que a “frigidez” é uma desculpa para a mulher não transar, deveriam se perguntar o que estão fazendo para melhorar a libido de suas parceiras, não existe um bom sexo para as mulheres sem uma boa preliminar, caricias, beijos e tal…algumas mulheres casadas me contam que seus parceiros aproveitam da proximidade da cama a famosa “encochadinha” para dar uma rapidinha, sem mais delongas, as parceiras recusam porque querem preliminares para terem uma boa excitação e recusam, tai formada a desculpa para o parceiro a arrumar uma amante, minha mulher não quer mais fazer sexo comigo, escuto isso todo dia. E mais um problema para a mulher, que é classificada pelo parceiro como “frigida”.

MM- Habilitada em discutir esse assunto, quais são os métodos existentes para que a mulher volte ou comece a sentir o prazer que ficara adormecido?AG - Não existe “métodos” como já disse antes, se a mulher não tem causa patológica, ai também inclui problemas hormonais e tal, e também alguma fases do ciclo menstrual causa falta de impulso sexual, mais não ausência, se bem estimulada ela gostará de fazer sexo, o que falo para as mulheres que procuram o Coletivo Feminista, é estimular a terem um bom auto conhecimento, serem donas de suas vaginas, se conhecerem melhor que o parceiro ou o médico, só assim saberão o querem e guiar o parceiro para sexo satisfatório.
Também não é em toda relação sexual que a mulher terá um orgasmo, isso também foi muito estimulado por artigos dando mais esta “obrigação”, as mulheres então que não sente orgasmo em toda relação pode estar com problema, não é verdade, a relação sexual pode ter sido ótima, cheias de carinho e boas preliminares, mas, por algum motivo ela não gozou, mas fico satisfeita, sei que é difícil homens entenderem, mas acontece sempre, é e normal.


MM- No decorrer da profissão, qual foi o caso que mais lhe impressinou?AG- Tenho várias estórias para contar de casos que escuto, oficinas que faço, e e-mails que respondo, mas tem um caso que gosto muito, de uma mulher que leu uma matéria sobre nós (Coletivo Feminista) e me ligou. A queixa era sobre vaginismo ( a musculatura pélvica é contraída, de modo que o orifício vaginal fica estreitado) Bom, perguntei claro se ela tinha esse diagnóstico de Vaginismo, ela disse que o médico falou para ela que não tinha nenhuma causa física, que era psicológico mesmo. Fiz a minha pergunta usual sobre a relação dela com o sexo e com ela mesma… Ela disse então que estava casada há 3 anos, e ainda não havia conseguido uma penetração completa…que estava desesperada e tal, não dava para ela vir até aqui, pois estava em uma cidade pequena em Rondônia, onde nem psicólogo tinha, logo não tinha como encaminhá-la, ensinei então para essa mulher como se tocar, que ela podia fazer isso primeiro sozinha, com ajuda de um espelhinho, para se conhecer e tal, e disse para ela que qualquer coisa me ligasse, ela me ligou mais umas 3 vezes, eu ensinando uma mulher a se masturbar por telefone, e só na 4° ligação, ela me disse que tinha tido sua primeira relação com penetração completa, e que estava muito feliz com isso.

MM - Há algum livro ou site que os leitores possam se aprofundar mais nesse assunto?
AG- Temos um site que as pessoas podem acessar www.mulheres.org.br
Uma linha hotline para tirar dúvidas que funciona das 10 as 17 de segunda a sexta
E um ambulatório que fica na Rua bartolomeu Zunega, 44 - que é Coletivo Feminista tel é para marcar consulta é 11-3812-8681

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